No quadro da 4ª fase do Projecto “Meninos de Rua: Inclusão e Inserção” / Rede Vozes de Nós, entre os dias 16 e 18 de Junho de 2019, sob a iniciativa e direcção da Okutiuka, realizou-se no Huambo o Programa para o Encontro sobre Arte-Educação que também incluiu um workshop sobre Recomendações para Medidas concretizadoras dos Direitos das Crianças.
Neste Programa, estiveram envolvidas organizações, entidades e personalidades do Huambo, de Benguela, do Cunene, do Cuíto e convidados de Luanda, provenientes das diversas esferas de desenvolvimento social: ONG, Entidades Estatais, Grupos e associações comunitárias, activistas, intelectuais e a Comunicação Social.
O primeiro dia do Programa foi domingo, dia 16 de Junho, e constou de um grande evento performativo e demonstrativo nas instalações da Okutiuka (antiga fábrica de lacticínios em ruína e gradual recuperação) que foi protagonizado pelas crianças e jovens da Okutiuka e da ALCA (Associação Literária e Cultural de Angola). Começou com uma visita guiada (por um dos jovens pertencentes à “família okutiuka”) às instalações e aos pontos de rotinas das crianças utilizadoras, com diversas oportunidades de interacções com as próprias (por via de links fotográficos entre o passado e o presente). Seguiu-se um espectáculo teatral e musical no pátio interno das instalações, preparado propositadamente para esta ocasião, onde se contou a história da Okutiuka numa sucessão de quadros alusivos aos episódios mais marcantes. Seguiram-se uma série de testemunhos e de demonstrações das diversas modalidades que são praticadas na Okutiuka, tanto pelos seus residentes como pelo crescente conjunto de crianças provenientes das comunidades envolventes. Esta actividade teve a participação directa (como intervenientes) de cerca de 50 crianças e jovens, e como assistentes-participantes estiveram cerca de 100 pessoas convidadas, para além de acima de 100 pessoas e jovens das proximidades.
Nas instalações da Biblioteca Provincial do Huambo, na 2ª feira dia 17 de junho realizou-se o primeiro workshop – em que se apresentaram as dinâmicas e resultados da Rede Vozes de Nós e em que se fez um diagnóstico (por Província / Região) acerca das práticas de Arte-Educação e das medidas viabilizadoras dos Direitos das Crianças. Esta primeira jornada reflexiva contou com a participação de 50 pessoas provenientes de 22 entidades, para além dos que estiveram em nome próprio (num encontro de porta aberta).
Após o balanço da Rede Vozes de Nós, em que houve ocasião para analogias entre os diversos países e organizações, numa revisão de modelos de intervenção, quer nas tipologias de resposta, quer nas metodologias, nomeadamente nas de Arte-Educação. Foi focalizado o caso e parceiro angolano Okutiuka no seu capital acumulado e em progresso nas “artes de rua”, o que é aliás coerente com a sua natureza e ecologia – as suas sucessivas apostas na revitalização do Carnaval, os grupos de dança, a animação em festividades, a implicação no Festival Rock e noutros eventos similares. Foi abordada a questão das transições de modelos organizativos mediante re-adaptações às realidades com base na experiência acumulada, o que é também o caso da Okutiuka, cada vez menos entidade de acolhimento residencial e cada vez mais transversal e pólo de Arte-Educação e de Economia Criativa.
Seguiu-se uma intervenção do escritor Ondjaki que incluiu a leitura de um texto de Ana Paula Tavares e deu-se a oportunidade poética de se deambular pelos meandros do “olhar das crianças”. Ondjaki referiu-se à importância da escrita criativa, para mais estando este encontro sob o signo da Arte-Educação, e ofereceu-se para a formação-experimentação para que seja solicitado nestes projectos com crianças em situações vulneráveis.
Na continuidade do encontro, efectuou-se uma roda pelos representantes das diversas Províncias presentes que traçaram breves retratos das suas realidades e registaram-se diversas intervenções dos participantes acerca das principais preocupações diagnósticas e prospectivas da actualidade: a exclusão actual e severa das crianças com deficiência (mesmo destas metodologias criativas e supostamente mais inclusivas), a necessidade de Bases de Dados acerca da diversidade de experiências e respectivas evidências (para difusão, intercâmbio e monitorização), como alargar as Redes, nomeadamente a Rede Vozes de Nós?, autonomia das Redes em relação ao Estado, ordenamento e gratuitidade dos Registos civis (elementares para os direitos de cidadania), descriminações dentro do universo escolar (nomeadamente por opções de estilo), melhoria nas qualidades dos equipamentos escolares e dos seus acessos (nomeadamente o transporte escolar), importância das aprendizagens técnicas e oficinais (em discrepância com os recursos e opções existentes), incentivo e promoção de projectos inovadores em parceria com as escolas, a revisão do papel das Comissões de Pais e Encarregados de Educação, os relacionamentos com o INAC a propósito dos Centros de Infância, a necessidade - por parte das redes e projectos – de meios de divulgação e de frequência nos fluxos de comunicação.
No dia 18 de Junho, também na Biblioteca Provincial do Huambo, realizou-se o segundo workshop, com cerca de 35 participantes provenientes de 20 entidades (na mesma composição atrás indicada), começando por se fazer uma síntese do encontro do dia anterior.
Após esta introdução e os diversos esclarecimentos mútuos entre os participantes, esta sessão foi integral e exclusivamente dedicada à enunciação de Recomendações por parte de todos os participantes presentes, que foram sendo registadas e que foram relatadas no final da sessão para validação e afinação por parte de todos os participantes. Resultou assim um primeiro documento draft com um conjunto de 34 Recomendações que imediatamente entraram em circuito de afinação à distância, prolongando-se assim os efeitos dos encontros, que também são reforçados pelas ressonâncias na Comunicação Social, nomeadamente nas reportagens emitidas pela TV Zimbro.
O Programa terminou com uma fogueira no pátio da Okutiuka, na noite de 3ª feira dia 18 de Junho, em circunstâncias de lua cheia, onde se desfiaram (ao desafio) estórias e improvisos, sonoridades e ritmos e danças, num serão prolongado de difícil descrição num relato deste teor.
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