sexta-feira, 25 de maio de 2012

Cabo Verde, um arquipélago de mundos

Na semana de 23 a 28 de Abril foi a vez de proceder à recolha de dados sobre a realidade cabo-verdiana para a 2ª fase do projeto “Meninos de Rua: Inclusão e Inserção”, o que ocorreu em dois contextos distintos: Espargos, a capital da Ilha do Sal e a cidade da Praia, capital do país, na ilha de Santiago. 

Começamos pela ilha do Sal e por uma das organizações indicadas pelo nosso parceiro de projeto: o Centro Juvenil de Chã de Matias, no bairro com o mesmo nome, situado em Espargos, capital da ilha. Como se pode ver pela 1ª fotografia deparamo-nos com uma paisagem quase lunar, ou até marciana, com um ambiente morno, à distância de uns quilómetros da principal estância turística do país (Santa Maria – com as suas fantásticas praias brancas e mares azuis e turquesas). 


Vista quase aérea de Chã D'Matias, Espargos, ilha do Sal


Este Centro Juvenil está integrado numa Associação, e numa sede com instalações onde existe também um Centro Comunitário, ou seja, é um “projeto-eixo” que está articulado com outros projetos de desenvolvimento social e resulta de parcerias entre a sociedade civil (uma associação de raiz local) e o Estado (este Centro Juvenil é um dos pólos do ICCA – Instituto Caboverdiano da Criança e do Adolescente). O Centro trabalha regularmente com 100 crianças e adolescentes, entre os 6 e os 17 anos e dispõe de uma equipa de cerca de 10 pessoas que asseguram todas as funcionalidades em dois turnos. È feito um trabalho de reforço das socializações nas crianças e adolescentes provenientes de famílias em condições críticas. É uma espécie de prevenção ativa e atuante que impede que aqueles destinatários sejam “meninos ou meninas na rua”, complementada e articulada com os outros projetos da Associação.


Um dos espaços de atividades do Centro e grande concentração nas tarefas

Parte da equipa em almoço de trabalho, após serviço de almoço às crianças e jovens do Centro

As instalações do Centro Juvenil de Chã D'Matias

paisagem lunar e marciana pode tornar-se quase metropolitana em Santiago e na cidade capital da Praia. A organização cabo-verdiana parceira do projeto, a ACRIDES – Associação Crianças Desfavorecidasintervém em cinco pólos correspondentes a outros tantos bairros críticos e periféricos.

Nos interstícios da cidade da Praia, na ilha de Santiago

A ONG ACRIDES abrange cerca de 200 crianças nas suas atividades regulares quotidianas, e por turnos, que decorrem nas instalações cedidas ou arrendadas em cada um dos cinco pólos: Lém-Cachorro (nas instalações da sua sede na zona da Fazenda), São Filipe, Bela Vista, Achada Grande de Trás e Tira Chapéu.

Para além das atividades regulares, a Associação desenvolve frequentes ações pontuais onde abrange mais cerca de 500 crianças no período de cada ano. Entre as atividades especiais destaca-se o Campo de Férias anual, durante um mês, cada ano num bairro diferente (não coincidente com os bairros onde existem pólos regulares), que é participado por cerca de 300 crianças (as crianças dos cinco pólos e as crianças do bairro selecionado). A equipa operacional é constituída por cerca de 12 pessoas que são voluntárias ou semi-voluntárias (com pequenas gratificações de sustentação) para além dos cerca de 200 voluntários dispersos nas diferentes zonas e dos jovens ativistas de alguns dos pólos.

Em Cabo Verde é difícil falar propriamente em “crianças de rua” (que ocorrem pontualmente). Mas há muitas crianças “na rua” (nos meandros dos bairros) e os destinatários da ACRIDES são crianças nos limiares da exclusão: pobres, abandonadas, orfâs, vítimas, com as respetivas fragilidades familiares. Por via da sua orientação e experiência, a ACRIDES trabalha com os destinatários diretos mas intervem também sistematicamente com os respetivos contextos.


A preparar uma atividade comunitária do pólo da Bela Vista

No bairro da Achada Grande de Trás - atividade sobre a vida familiar

Na sede da ACRIDES na Fazenda. A Rute com meninos de Lém-Cachorro

Meninas de Lém-Cachorro a serem fotografadas por um dos meninos

Durante os dias em Santiago, para além da ACRIDES, ainda foram feitos contactos com outras três organizações ou instituições que também intervêm nesta problemática: a Associação Black Panthers, que é uma associação comunitária no bairro da Várzea, com excelentes e diversificadas instalações e longa experiência, trabalha predominantemente com crianças (3 aos 6 anos) e jovens (bolseiros e praticantes) e assim evitam que a sua comunidade tenha meninos “na rua” e assegura-lhes as mobilidades escolares; o Centro Sócio-Educativo Orlando Pantera, que pertence aos Serviços de Reinserção Social do Ministério da Justiça, onde estão neste momento tutelados sete jovens adolescentes; e o ICCA – Instituto Cabo-verdiano da Criança e do Adolescente, que é uma entidade também estatal, de âmbito nacional e com amplas missões de proteção e reinserção social (5 Delegações, 3 Centros Residenciais...). 

A sede da Associação Black Panthers no bairro de Várzea 

Na visita ao Centro Orlando Pantera - com o Dr. António Roliano Cardoso, Diretor dos Serviços de Reinserção Social

As ilhas têm esses sortilégios das VISTAS LARGAS sobre o mundo. E os meninos sabem-no muito ativamente

Orlando Garcia

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