segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

VOZES DE NÓS segundo Ana Paula Tavares, escritora


Os meninos (homens e mulheres) do Huambo e doutras partes não conhecem as palavras que os protegem, os suaves discursos que em seu nome se espalham e criam ruído e som. Sabem da rua, do enviesado das esquinas e da cor fria da lua. Sabem da diferença entre o milho e a massambala e conhecem todas as formas de luta contra o esquecimento. (...)

Correm as noites. Os que sobrevivem cantam em silêncio os sons da dor em muitas línguas. Em algumas delas tudo é considerado purificação. Transportam nos corpos os fios de seda da tradição abertos e repostos em dor todos dias. Helena, João, Mauro, José e da Silva podem agora soltar as vozes e encher a noite de histórias. Uma casa, um centro, okutiuka com paredes para permitir a vida faz rolar as narrativas, recordar que o mau é tempo passado e que todos os dias, todos os meninos, as mulheres, os homens tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.


excerto da Introdução ao capítulo dedicado a Angola, de Ana Paula Tavares - escritora (Angola)

Sem comentários:

Enviar um comentário